quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

'Viver' numa sucata

DESTRUTURÇÃO FAMILIAR
'Viver' numa sucata

Há momentos, situações, acontecimentos que podem mudar a vida de qualquer um. Não que a vida de Elísio e Cândida fosse desafogada. Nunca foi. Mas piorou.

Elísio nasceu há 72 anos no Porto e tem a 4ª classe. Foi pedreiro, marmorista e fez fivelas até ir para combater para Angola, onde passou três anos. Quando regressou foi trabalhar para os Correios de Potugal e é daí que lhe vem a reforma de 500 euros por mês.

Cândida veio de Cinfães, no Douro, para o Porto, com 12 anos. Serviu em casas como empregada. Nunca descontou (nem nunca descontaram por ela) e não recebe por isso reforma ou qualquer outro rendimento. Sabe escrever o nome e conhece os números. Mas não consegue ler mais nada.

O casamento do filho resultou num divórcio doloroso. Vieram as drogas, as dependências. Elísio foi-se abaixo, ficou profundamente abalado, começou a beber. A vida mudou por completo. De casa em casa, de bairros sociais a ilhas, passando por casébres com más condições. Houve violência doméstica. Houve muito sofrimento.

A primeira vez que falei com Elísio estava numa casa sem luz há três meses. Falava pouco, bebia muito, tinha a barba por fazer. Acabou por ser despejado. Entretanto, o filho desintoxicou-se e está limpo de drogas. De um dia para o outro, Elísio deixou de beber, de fumar, de ficar deitado o dia inteiro à espera que a vida passasse. Sente-se melhor e diz que vícios "nunca mais". Cândida ficou mais feliz e espera que não haja retrocessos.

Contudo, se no aspecto familiar a vida melhorou, no que respeita à habitação tudo se degradou. Vivem há três meses numa barraca construída na sucata onde trabalha o filho. Elísio e o filho dormem na mesma cama, num quarto forrado a chapas de zinco e madeira aprodrecida. Cândida, também com 72 anos e que precisa de ser mais uma vez operada a um problema nas pernas, dorme ao lado, num colchão sobre madeira e cimento molhado. Tapa os buracos das paredes de alumínio com roupas e plásticos. Cozinha num pequeno fogão dentro do quarto. Espera que a vida melhore. E que melhore depressa.







FONTE: EXPRESSO



2 comentários:

Anónimo disse...

Bolas, não duplo BOLAS! :O

Fiquem completamente sem reacção ao ver o vídeo e principalmente a ler o texto, estas pessoas sofreram do pior que a vida pode dar, agora vivem numa sucata, sem palavras mesmo, fiquei constrangido com o que li!

Só espero que a saúde e a comida não vão faltando aquela casa, e que Deus esteja com eles :)

Anónimo disse...

Acredita Luis...

Fiquei toda arrepiada!! :S

Há coisas mesmo injustas nesta vida!

:S

Sílvia Fonseca